Noite Vermelha na Câmara de Nova Friburgo

A noite de 28 de março de 2012 ficará marcada na história do Legislativo de Nova Friburgo como a data em que os comunistas invadiram mesas e plenário da Câmara Municipal para realizar belo e sensível ato em comemoração ao aniversário do PCB. Três dias depois da data em que comunistas de todo o Brasil festejaram os 90 anos de fundação do Partido, na Câmara de Niterói, a militância de Nova Friburgo tomou conta do espaço reservado para as reuniões dos vereadores, para lembrar a história de lutas dos revolucionários brasileiros e, em especial, dos comunistas friburguenses.

A Sessão foi presidida pelo Vereador Professor Pierre (PDT), que solicitou, no plenário da Câmara, a marcação da audiência – transformada em solenidade – em homenagem ao PCB, a qual aprovada, de forma unânime, pelos vereadores. Carregada de emoção do princípio ao fim, a atividade contou com a presença da militância do PCB de Nova Friburgo (Base Francisco Bravo) e da UJC, de amigos e simpatizantes e de representações de entidades, partidos e organizações, tais como: PSOL, PSTU, PDT, Sindicato dos Professores de Nova Friburgo e Região, SEPE, SINDSPREV, Associação de Docentes da FFSD, DCE Mário Prata (FFSD), Grêmio do Instituto de Educação de Nova Friburgo, Conselho Municipal da Juventude, além dos camaradas Dinarco Reis Filho e Paulo Schueler, representando o Comitê Central do PCB e a Fundação Dinarco Reis.


O ato foi aberto pelo camarada Ricardo Costa (Rico), Secretário de Organização da Base Francisco Bravo, do Comitê Regional e do CC, que fez breve exposição sobre a história do PCB, em âmbito nacional e local. Rico destacou a luta desenvolvida pelos comunistas em Nova Friburgo, desde o ano de 1925, quando foram feitas as primeiras tentativas de criação da célula local, através dos padeiros italianos Elpídio e Maradey, passando pela efetiva criação do PCB no município em 1929 (em reunião da qual teria participado Astrojildo Pereira), pela organização do movimento operário e sindical nos anos 30 a 50, pela eleição do comunista Francisco de Assis Bravo para a Câmara Municipal em 1962, por sua cassação em 1964, pela reorganização do Partido nos anos 80 e pelas batalhas contemporâneas dos comunistas friburguenses, da década de 90 aos dias atuais, enfrentando e superando as imensas dificuldades encontradas ao longo de toda essa trajetória, tanto em decorrência da repressão das ditaduras, quanto pela tentativa de liquidação do PCB ao fim do século passado. Foram lembrados os nomes de figuras históricas do PCB de Nova Friburgo, tais como os operários Francisco Bravo, José Pereira da Costa Filho (Costinha), Arquimedes de Brito, os advogados Benigno Fernandes e Jorge El-Jaick, Molares, Manoel Leite (Lilito), Pedretti, o compositor e maestro da Banda Campesina Friburguense Joaquim Naegle, dentre outros.


O camarada Sidney Moura, Secretário Político da Base e membro do Comitê Central, proferiu comovente discurso lembrando o papel heroico dos comunistas brasileiros nas inúmeras batalhas em defesa dos interesses dos trabalhadores. Dirigiu-se especialmente à juventude e às mulheres, emocionando a todos com sua fala em reconhecimento à participação das camaradas em todos os momentos difíceis por quais passaram e passam aqueles que lutam por uma sociedade igualitária em nosso país. Aos jovens, disse esperar deles que concretizem os sonhos da geração que enfrentou a ditadura de 64, geração esta que não pôde legar aos filhos um mundo diferente do atual. Concluiu lendo o poema “A meu Partido”, de Pablo Neruda.


O momento alto do evento ficou por conta das homenagens feitas aos militantes históricos do PCB de Nova Friburgo: Flávio Antunes de Moraes e Aristélio Travassos de Andrade, cujas biografias seguem abaixo. Dinarco Reis Filho lembrou a amizade de mais de 50 anos com o camarada Aristélio, cuja viúva e filhos, Marly, Alexandre e Sylas, receberam as homenagens dos militantes do PCB de Nova Friburgo. “Seu” Flávio, como é carinhosamente chamado pelos comunistas e lutadores friburguenses, acompanhado de amigos e familiares, agradeceu, sensibilizado, as honras recebidas.


A noite terminou com um grande congraçamento de todos os presentes, que se reuniram para foto histórica, e com a juventude comunista clamando o grito de guerra do PCB: “Força, ação, aqui é o Partidão!!”.


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Aristélio Travassos de Andrade nasceu em 18 de março de 1934, na cidade de Timbaúba, Estado de Pernambuco, de onde seus pais saíram, para morar no Rio de Janeiro, quando tinha 3 anos de idade. Em 1952, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, do qual nunca se afastou. Anos depois, conheceu Marly, companheira admirável que lhe acompanhou até o fim da vida e com quem teve dois filhos (Sylas e Alexandre). Quando se iniciou a construção da refinaria Duque de Caxias, o Partido lhe deu como tarefa fazer o concurso para a Petrobras. Ingressou na empresa em 1958. Na Reduc, foi fundador de um amplo movimento político, em defesa dos princípios que nortearam a fundação da Petrobras, com destaque para a luta em defesa do monópolio estatal do Petróleo, o Movimento 2004 (número da lei que criou a Petrobras).

O Sindicato da Reduc foi violentamente perseguido em 1964. Nenhuma unidade da Petrobras teve o número de cassados que teve a refinaria, e o número de demitidos passou de 300. Tal era a fama do Sindicato e dos comunistas da refinaria, que, nas palavras de Aristélio, “foi criado um campo de concentração para nós”. Muitos foram torturados. Mesmo cassados, refundaram o Movimento 2004, que deu origem à Comissão de Anistiados da Petrobras, que até hoje luta pelos direitos destes trabalhadores. Em 1964, Aristélio ficou preso no DOPS e, depois, no Presídio Ferreira Viana, na famosa Rua Frei Caneca. Não conseguia mais emprego e acabou virando jornalista, transformando-se num dos mais competentes e respeitados profissionais da área, sempre lembrado e admirado por antigos colegas e pelos leitores, quando se tornou colunista. Trabalhou no Jornal dos Sports, no Correio da Manhã, na sucursal do Estadão, da Folha de São Paulo e em O Globo, na revista Placar (que fundou com Maurício Azêdo) e na TV Manchete

Retornou à Petrobras, assumindo a função de chefe de setor de divisão e, depois, superintendente adjunto do Serviço de Comunicação. Quando Collor foi eleito, pediu demissão e veio para Friburgo ser diretor de jornalismo da TV Serra Mar, onde trabalhou por um ano. Bateu de frente com os maus prefeitos da região, chegando a ser ameaçado, tendo sido obrigado a se afastar. Tornou-se colunista do jornal friburguense A Voz da Serra, onde, durante vários anos, produziu deliciosas crônicas sobre a cidade, o estado e o país, falando de tudo: política, futebol, samba e jazz, de que era grande entendedor, por isso mesmo integrante do Clube de Jazz.

Em maio de 2004, foi eleito diretor tesoureiro da Associação Brasileira de Imprensa. Neste mesmo ano, aceitou o desafio lançado pelos camaradas do PCB de Nova Friburgo e foi candidato à prefeitura, arrebanhando quase 8.000 votos (cerca de 7% da votação), numa das mais significativas performances obtidas por um candidato de esquerda no município, talvez a maior da história da cidade, levando-se em consideração ter sido candidatura própria, sem coligações. Dois anos depois, cumpriu de novo a tarefa de ser candidato pelo PCB, desta vez a deputado estadual, mas a saúde já debilitada não permitia mais muitas andanças.

Depois de uma longa batalha contra o câncer e os efeitos do tratamento da doença, que o deixaram bastante debilitado, em 05 de março de 2010, descansava o bravo camarada Aristélio, de quem lembraremos sempre os 58 anos ininterruptos de militância no PCB, a participação ativa nas batalhas contra a ditadura, contra as desigualdades e injustiças promovidas pelo capitalismo, assim como a autoria dos belos textos em defesa da nossa cultura, da democracia e do socialismo.

Flávio Antunes de Moraes nasceu em 25 de junho de 1926, na cidade de Trajano de Moraes, Estado do Rio de Janeiro. Conheceu o PCB no ano de 1957, época em que participou ativamente das campanhas nacionais a favor da Paz Mundial e pela criação da Petrobras, a histórica campanha do “Petróleo é Nosso”.

Veio morar em Nova Friburgo no ano de 1960, abrindo pequeno comércio na Avenida Alberto Braune, nº 50. Conheceu os militantes comunistas Francisco Bravo, Costinha, Manoel Leite (Lilito) e outros, tendo atuado nos movimentos políticos promovidos pelo Partido e em defesa dos trabalhadores, como as lutas pelo 13º salário, por melhores condições de trabalho, pelo direito à previdência, dentre outras.

Com o golpe militar de 1964, foi obrigado a sair de Friburgo, ficando foragido na casa de amigos, na Ladeira Boaventura, em Niterói. Casou-se, em 1967, com Zilmeia Romani de Moraes, professora da rede estadual, com quem teve dois filhos: Aline e Mário Felipe.

Na retomada das lutas democráticas, na década de 1980, reencontrou-se com os camaradas do PCB, que, no ano de 1985, conquistada a legalidade política, organizaram a Comissão Provisória do Partido em Nova Friburgo, cuja presidência de honra foi ocupada por Chico Bravo. Flávio foi encontrado, pelos militantes do PCB, durante a campanha de filiações, na casa onde trabalhava como caseiro, no Sítio do Viaduto, em Mury, ao lado de onde, mais tarde, passaria a viver seu amigo Aristélio. Convidado a se filiar ao PCB, respondeu que já era “comunista de carteirinha” desde a década de 50!

De lá para cá, participou de todos os movimentos em que estiveram presentes os comunistas friburguenses: o apoio militante às greves dos operários têxteis, metalúrgicos, do vestuário, dos bancários e dos professores; as manifestações contra os aumentos das passagens de ônibus e contra o monopólio da FAOL; as lutas contrárias à privatização da Autarquia Municipal de Água e Esgoto; as campanhas contra a ALCA, pela reestatização da Vale, pela Petrobras 100% estatal, o plebiscito pela terra; a solidariedade internacional a Cuba Socialista e a todos os povos agredidos pelo imperialismo; as campanhas eleitorais do PCB. Hoje, morador no bairro de Theodoro da Silveira, contribui com a luta comunitária e pela preservação ambiental daquele recanto ecológico.



Base Francisco de Assis Bravo – PCB de Nova Friburgo.